A Rua Das CáRies

História para trabalhar higiene bucal

  1. Aqui estão o Lambão e o Glutão, em posição para uma fotografia de família. Trata-se de uma ampliação; na realidade, são muito menores. Eles não parecem ser muito maus, e no entanto...
  2. ...no entanto, estes dois compinchas são perigosos, porque é no fundo dos dentes que cavam a sua toca. Juntos, instalaram-se clandestinamente na Rua dos Cáries. Eis a casa do Lambão. É confortável. Mas ele nunca está contente; quer cavar uma casa de campo no dente do lado. Então parte para o trabalho logo pela manhã, sem se preocupar em fazer a cama.
  3. O Lambão também é muito guloso. No armário, guarda enormes reservas de rebuçados de Alcaçuz. E o seu cofre transborda de cristais de açúcar de todas as cores: um verdadeiro tesouro de pedras preciosas, descobertas no esmalte dos dentes.
  4. Reconhecem-nos? Os cristais brancos são pequenos restos de algodão doce; os castanhos, são migalhas de bolacha ou de chocolate. Os amarelos grandes são bocados de rebuçados; os verdes e os lilases são pedaços de gomas. E os vermelhos grandes? Pois é, são rebuçados de morango!
  5. O Glutão mora no dente ao lado. Aqui está ele a descansar na sua cadeira de baloiço, após um duro dia de trabalho: acaba de cavar uma nova despensa. Só falta pendurar a cortina que já está cosida e pousada em cima da mesa. Mas, por enquanto, vai lambendo os beiços ao saborear uma chávena de “coca-cau”. É uma bebida feita de coca-cola e de cacau. O Glutão é avarento: para não perder uma só gota, construiu um sistema de recuperação no telhado da sua casa. Por um buraco cavado no esmalte, a mistura corre directamente por um cano. Quando tem sede, Glutão só precisa de abrir a torneira para encher a caneca de coca-cau. É a sua bebida preferida.
  6. As casa dos dois compinchas ficam nos números 1b e 2b da Rua das Cáries. Do lado direito, logo a seguir à curva. Todas as manhãs, o Lambão ataca o dente vizinho. Mas ele ainda está forte porque acabou de crescer. Não é fácil cavar! O Lambão já transpira grandes gotas de suor, quando uma corrente de ar se faz sentir.
  7. O Lambão conhece este sinal: abastecimento! Rapidamente enfia-se em casa e aguarda. Os dois cúmplices morrem de impaciência. Qual será a ementa?
  8. Um empurrão com a lingua – e um enorme pedaço de chocolate chega numa onda de saliva.
  9. O Lambão até fica doente. Tem de ficar na cama durante dias e dias. E como o Glutão toma conta dele, também não tem tempo para ir trabalhar. As obras ficam abandonadas.
  10. Logo que fica bom, o Lambão pensa abrir uma agência imobiliária. Transformaria todos os dentes em apartamentos para alugar. A rua teria então outro nome: “Urbanização das Cáries”.
  11. No último molar, cavaria uma piscina. Isso agradaria aos inquilinos. As rendas seriam muito elevadas. O Lambão é um homem de negócios com dentes afiados.
  12. Na parte de cima, arranjaria os escritórios. O andar superior seria reservado à Direcção. Ele seria o chefe. O Glutão poderia tornar-se Director-Adjunto e ajudá-lo a gerir os apartamentos. Ai, que bela carreira! Mas para realizar esse sonho, ainda é preciso trabalhar muito. Cavar os dentes, cavar sempre.
  13. Porém, algo de estranho vem interromper o seu sonho. Uma enorme vassoura, montada por uma equipa de Capacetes Verdes com fardas brancas, está a subir a Rua das Cáries. Vêm armados até aos dentes com escovas e baldes, com aspiradores e farrapos. O Lambão e o Glutão ficam sufocados por um forte cheiro a mentol.
  14. Sem perder um segundo, os Capacetes Verdes descem e começam a limpar todos os cantos e recantos . Escovam e esfregam cada milímetro quadrado. Quando encontram entre os dentes ( por exemplo pão, chocolate ,carne fruta, legumes, caramelos, cereais, etc...), escovam e puxam até que tudo desapareça.
  15. O Lambão e o Glutão só têm tempo para se esconder. As casa deles são revistadas de alto a baixo. As reservas são encontradas, o armário e o cofre esvaziados. Depois, os Capacetes Verdes retiram-se Um grande jacto de água salpica a rua toda. E o silêncio volta.
  16. Mas o Glutão anima-o: ninguém descobriu a despensa. Durante a doença do seu compincha, ele pendurara a cortina. O pedaço de chocolate está são e salvo.
  17. Os dois decidem então cavar um esconderijo ainda mais fundo para abrigarem as suas novas reservas. Mas como já não têm mais do que o chocolate para roerem, estão branquinhos. As obras avançam lentamente.
  18. Um dia, finalmente, o Lambão e o Glutão chegaram ao fundo do dente cavado. Já está, o buraco está quase suficientemente grande para conter o pedaço de chocolate. É só mais uma pazada, e... Zás! Em cheio no nervo. Ai! O sinal de alarme dispara: “ATENÇÃO, DOR, PERIGO... ATENÇÃO, DOR, PERIGO...” O cérebro reage logo: “MENSAGEM ENTENDIDA” Agora sabe que uns malvados trabalham sem licença para construir e ameaçam a saúde dos dentes. Mas que se há-de fazer? Não pode corre-los sozinho. Então faz inchar a bochecha para que toda a gente se aperceba do perigo.
  19. Alguns dias mais tarde, a boca abre-se e um grande sol ilumina a Rua das Cáries como em pleno Verão. O Lambão e o Glutão ficam ofuscados, detestam a luz. Apenas conseguem vislumbrar o gancho que se dirige para a sua casa. Lá está ele a espetar o sofá do Lambão e a desaparecer com ele. A seguir ...volta e tira a cama, o cofre, o armário. E a fotografia de família e o tapete. E até a escada.
  20. Aparece um segundo gancho, carregado de plasticina branca. Enche com ela a casa vazia, até ao telhado. Depois as paredes são limpas e esfregadas. Um terceiro gancho, mais fino, traz uma poção sonífera. A casa do Glutão recebe duas gotas e adormece. O pobre dente está tão furado que já não pode ser salvo. A luz brilha de novo e um alicate entra lentamente. Envolve o dente doente, abana-o um pouco, puxa – e zás! Está cá fora. E o Glutão com ele.
  21. O Lambão fica enraivecido. Bate nos dentes como um diabinho e grita: “Nada me impedirá de arranjar a Rua das Cáries! Os dentes são meus, hei-de cavá-los todos, até ao último. Farei deles umas casas, estão a ouvir?? CASAS!!!” E bate cada vez mais com o martelo contra o esmalte. Então, o gancho volta uma última vez. Aproxima-se do louco varrido e agarra- o pela pele das costas.
  22. A calma voltou finalmente á Rua das Cáries. Para se recomporem de tantas emoções, os dentes rilham uma boa maçã, rica em vitaminas. Escaparam por um triz. Os Capacetes Verdes benfeitores estão aqui para ajudá-los e cuidar deles. Passam agora muito regularmente pela Rua das Cáries e sentem-se lá como em casa. Então, se um dia encontrarem diabinhos maus com o nome de Lambão, Glutão ou outros, já sabem que devem fazer... É verdade, querem saber o que foi feito do Lambão e do Glutão?
  23. Quando limparam os aparelhos, no dentista, foram levados os dois pela canalização. Deslizaram por canos compridos, atravessaram esgotos escuros e acabaram por mergulhar num rio. A corrente arrastou-os para muito, muito longe daqui, para o Mediterâneo. Esta mudança forçada transformou-os. Numa praia muito chic, passam agora os dias a apanhar banhos de sol. Pelo menos, ali já não se metem com os nervos de ninguém.
  24. FIM Imagens e texto retiradas do livro “A RUA DAS CÁRIES” Da editora DESABROCHAR Realizado por Cristina Braga da Cruz


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