Como fazer meu filho feliz?

Um abraço faz o meu filho feliz. Um novo brinquedo também o faz feliz. A felicidade pode-se quantificar?
A felicidade é um sentimento geral de bem-estar, prazer e harmonia com a vida. Pode ser feita de instantes de alegria como pode ser uma construção mais ambiciosa e duradoura. A quantificação dos sentimentos como a felicidade pode ser realizada por cada um conforme as suas expectativas e ganhos atingidos.

Existem diferentes felicidades? Existem duas felicidades iguais?
Podemos dizer que existem estados de felicidade que se exprimem através de diferentes sentimentos. Não há felicidades iguais pois até mesmo quando duas pessoas se sentem felizes por se terem casado, por exemplo, cada uma vive, sente e exprime a felicidade de forma diferenciada.

A felicidade mede-se pelo grau de satisfação / insatisfação da criança?
Nas crianças, como nos adultos, a felicidade pode medir-se pelo grau de bem-estar e realização (pessoal e social). Ela resulta de uma auto-avaliação que leva em conta os desejos, os projectos de vida e aquilo que as pessoas ambicionam alcançar. Pode-se ser feliz com muitas poucas coisas, como ser-se infeliz rodeado de recursos e possibilidades.

Quais os padrões que se podem estabelecer para «medir» a felicidade?
Essencialmente esses padrões devem envolver a saúde (bem estar biológico, psicológico e social), a capacitação para tirar partido dos seus recursos pessoais (inteligência, auto-motivação, talento, etc.) e sentimento de aceitação, afectividade e reconhecimento por parte dos outros.

Esses padrões mudam no tempo – os adultos podem comparar se são mais ou menos felizes, devido às vivências, do que gostam e do que já sabem que não gostam, do que lhes dá ou não satisfação. Numa criança (com menor vivência e num processo de aprendizagem e gestão de emoções) como se analisa essa felicidade?
O sorriso constitui uma interessante medida da felicidade nas crianças. A criança infeliz, triste ou desamparada raramente sorri. O sorriso genuíno, aquele que até os olhos o exprimem, estando geralmente presente no dia-a-dia da criança, significa que se sente bem e que está bem consigo e com o mundo.

O bem-estar emocional é a única medida padrão da felicidade da criança? Que outras podem ser apontadas?
O bem-estar inclui também o equilíbrio das funções orgânicas, gozar de saúde, o sentir-se reconhecida e aceite pelos outros e o perceber as suas possibilidades e recursos. Claro que tudo isso resulta em satisfação emocional e, em última instância, sentir-se feliz é perceber esse prazer.

Qual a melhor forma de estabelecer limites e repreendê-la sem ser demasiado severa?
Desde muito novas as crianças devem compreender e aceitar os limites da sua autonomia. Elas devem crescer em liberdade com o direito a exprimir as suas ideias, desejos e vontades. A sua personalidade vai-se desenvolvendo através de uma educação que lhe permita tirar partido dos seus recursos pessoais e que ao mesmo tempo lhe abra as pistas para o desenvolvimento do carácter, do sentido crítico e da noção da responsabilidade. Durante a infância e a adolescência a personalidade constrói-se através do esforço de aprendizagem na relação com os outros (família, amigos, sociedade em geral, etc.).

Qual a melhor forma de regular o comportamento do meu filho, sem recorrer aos castigos? Quando necessário, que tipo de castigos são mais aconselháveis, e quais os proibidos?
As emoções que controlam os comportamentos das crianças são educáveis. Uma boa educação deve por um lado respeitar a inteligência e a autonomia da criança e ao mesmo tempo incutir-lhe hábitos, atitudes e escolhas saudáveis e justas.
O castigo físico é assassino e amordaça a criança gerando uma série de problemas que perdurarão no futuro. As crianças são seres inteligentes e aprendem muito bem a dialogar, a conversar e a pensar bem. Muitos pais não exercitam esse tipo de educação. Mais tarde virá o dia em que se apercebem que os filhos se tornam irascíveis, impetuosos, agressivos e incapazes de manifestaram comportamentos socialmente equilibrados. Muitas crianças tidas como hiperactivas, por exemplo, são apenas crianças que não aprenderam a controlar os seus impulsos. São falsos hiperactivos.


Que tipo de actividades devo partilhar com o meu filho, de forma a aumentar a cumplicidade e os laços entre ambos, e qual a melhor forma de estimular a sua auto-estima?
São muitas mas as mais decisivas e duradouras são a afectividade inteligente dada com equilíbrio (sem excesso de protecção), a atenção, a generosidade, o carinho gentil, a garantia de segurança (psicológica, física, social), a libertação dos talentos e dos seus outros recursos pessoais (criatividade, comunicação, etc.), a aprendizagem para uma autonomia responsável e o desenvolvimento do sentido crítico e justo.

Assertividade, autonomia, segurança, afecto… Com base nestes conceitos quais as doses certas para cada um deles de forma a garantir-lhe felicidade? Eles são sempre garantia de felicidade?
A felicidade é essencialmente uma construção pessoal e depende muito mais do próprio do que dos outros. O papel dos pais é garantir condições para que a felicidade dos filhos seja também um trabalho deles mesmo e não apenas do que lhes garantirem (alimentação, roupa, brinquedos, diversões, cursos, etc.).

Um novo irmão ou irmã ajudam a que uma criança seja mais feliz, ou há o risco de poder sentir-se preterida, ou mesmo de rivalidade entre irmãos?
Tudo é possível. O factor idade também conta. As crianças podem ver um rival num irmão mais novo, pelo menos nos primeiros anos. Caberá aos pais saberem dosear a expressão dos seus afectos de forma que a mais velha não se sinta nunca preterida.

Os pais devem evitar discutir na frente dos filhos?
Devem de todo evitar discutir mas não devem ter medo de conversar junto dos filhos assuntos que, não sendo melindrosos nem excessivamente íntimos, podem até servir para incutir o diálogo, abrir os horizontes mentais das crianças e torná-las mais assertivas. Assim, elas também aprenderão a conversar e a abrirem-se com os pais.

Que tipo de assuntos devem permanecer abertos à discussão em que a opinião da criança seja tomada em conta?
Em geral pode falar-se de tudo aquilo que diga respeito à criança e que a não deixe confusa ou amedrontada. As crianças têm opiniões e estas devem ser ouvidas, conversadas e analisadas respeitando obviamente as limitações que a idade e o nível de desenvolvimento menta possam impor.

O excesso de regras pode deixar o meu filho infeliz, ou uma rotina de horários estabelecida faz com que uma criança se sinta mais segura?
A rotina, neste caso, é uma boa estratégia pois a criança habitua-se aos procedimentos e aceita facilmente realizar os seus deveres. O excesso de regras pode ser útil numa prisão mas nunca numa casa de família.

Quais são os sinais de indicam que o meu filho está feliz? E os que me dizem que está infeliz?
Um simples sorriso pode não indicar felicidade, como o choro pode não ser infelicidade… Esses indicadores podem ser, por exemplo, o sucesso escolar? A timidez? Perturbação do sono?
São vários os sinais que podem indicar um estado emocional negativo numa criança. A ansiedade é um dos primeiros. Ela revela frequentemente insatisfação, medo, dúvida, intranquilidade ou outro tipo de desconforto, nomeadamente físico e orgânico. Perturbações de sono, tiques, agitação anormal, impulsividade, manifestações agressivas sugerem sempre um mal-estar.

Quando o meu filho pede um presente de maior valor, devo oferecer-lho logo que possa ou esperar pela próxima ocasião que o justifique, por exemplo, um aniversário ou o Natal?
A gestão dos presentes é cada vez uma necessidade nestes tempos de consumismo desenfreado. Os presentes devem assinalar um momento especial: um aniversário, um feito nobre, um sucesso na escola, um prémio por algo merecedor de uma distinção, mas não mais do que isso. Há crianças que têm os quartos cheios de brinquedos a que não prestam a mínima atenção pois tornaram-se banais. Perderam todo o sentido para elas.

Os jogos de vídeo podem fomentar o seu isolamento, ou desenvolvem a sua mente?
Podem fomentar as duas coisas ou mais: fomentam o isolamento, o sedentarismo e o egoísmo. O que ganham no desenvolvimento da mente não compensa o que perdem nos outros domínios. Por outro lado, muitos dos jogos, quando a criança já os domina, já não exercitam o cérebro.

De forma geral, que tipo de acontecimentos na vida de uma criança têm mais probabilidade de a afectar negativamente e deixá-la infeliz?
Em geral são as perdas, o desamparo, o abandono, o enfraquecimento da auto-estima, problemas de auto-imagem, a rejeição, o estrangulamento da sua criatividade e a perda de autonomia. Estes e outros acontecimentos são interdependentes e alimentam pensamentos e sensações negativas que vão gerar um sentimento de infelicidade prolongado ou até mesmo crónico dado que ficam registadas na memória, muitas vez na memória não consciente e funcionando como gatilhos para comportamentos desajustados ao longo da vida.

(Texto retirado da entrevista à revista HAPPY WOMAN concedida pelo neuropsicólogo Nelson S Lima, Instituto da Inteligência).

FONTE: http://www.academiadepais.blogspot.com/ 

Hosted by Nara

1 comentário:

Amanda Lourinho Braga disse...

Olá Sil, gostei muito dessa postagem, meu bem criar filhos é uma arte, que dá prazer e exige muito esforço e dedicação para poder fazê-los felizes, ainda bem que nessa caminhada podemos contar com profissionais como você. Beijos.